sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tudo que é doce...

Há quase dois meses, começava a VIII Escola do CBPF. Estudantes de física, vindos de várias regiões do Brasil, chegavam ao Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas para os diversos cursos e palestras realizados durante o evento. Muito antes disso, nós da organização da Escola já nos preparávamos para receber nossos aguardados visitantes. Além de toda a preocupação com a estruturação dos cursos e com a recepção dos estudantes, também pensamos em criar um vínculo entre o participante da Escola e o CBPF, para que ele chegasse aqui e se sentisse em casa.

Tivemos então uma ideia: por que não criar um blog? Assim, no dia 3 de maio de 2010 lançamos o blog da VIII Escola do CBPF! Aqui, descobrimos que a física é pop, publicamos artigos de opinião, notas de aulas, fotos, informações adicionais sobre a Escola e sobre os eventos satélites, além de depoimentos em vídeo de professores da casa e entrevistas realizadas pelos próprios estudantes de pós-graduação, apresentando as diversas áreas de pesquisa da instituição. Ah, não podemos nos esquecer do nosso vídeo mais visualizado: a apresentação da banda Queda Livre, formada pelos pesquisadores popstars do CBPF! Tudo para que tanto quem participou da Escola como quem "chegou" ao CBPF através do blog pudesse conhecer um pouco mais do que fazemos aqui.

Foi surpreendente a participação de vocês! Antes do início da Escola, tivemos mais de 10 mil visitas! Comemoramos cada comentário em nossos posts e vídeos e a ajuda de muitos leitores na divulgação do blog da Escola através do twitter, e-mail, no boca a boca...

No entanto, encerrada a VIII Escola do CBPF, teremos também um recesso na produção do blog, que havia sido criado especialmente para esse evento. Pretendemos reformular nosso espaço, estabelecer uma nova abordagem e, em breve, voltar com todo o gás e muitas novidades. Agradecemos imensamente a cada um de nossos leitores! Para nossa despedida, apresentamos dois vídeos especialíssimos: o primeiro com depoimentos dos participantes, contando o que eles acharam da Escola do CBPF e o segundo, uma brincadeira bem-humorada do estudante Igor Bellucio, que aproveitou a variedade de sotaques dos participantes da Escola para fazer uma pergunta: "A equação de Schroedinger é...". 

Divirtam-se!

O que você achou da VIII Escola do CBPF?





A equação de Schroedinger é...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Autor da teoria que generaliza a estatística de Boltzmann-Gibbs dá entrevista para o blog da Escola

Com o artigo Possible Generalization of Boltzmann-Gibbs Statistics, de 1988, onde propõe uma generalização da mecânica estatística formulada no século 19, o físico Constantino Tsallis, que tem vários livros publicados e é autor ainda de mais de 300 outros artigos científicos, é um dos cientistas brasileiros mais citados, segundo dados da base WEB of Science.

Além de a mecânica estatística não-extensiva proposta por Tsallis ter conferido mais de duas mil e duzentas citações somente a este estudo, como aponta a base, a teoria tem servido de  referência para trabalhos em diversos campos de aplicação em sistemas complexos, nas áreas de biologia, medicina, economia e física.

Recentemente, a estatística de Tsallis tem sido utilizada também para analisar os dados produzidos pelo grande acelerador de partículas, LHC. Em fevereiro deste ano, no primeiro artigo gerado pela colaboração do CMS – um dos quatro detectores do experimento - a teoria enunciada por Tsallis serviu para descrever a medida de distribuição das partículas observadas nas primeiras colisões próton-próton em altas energias (2.36 TeV), ocorridas no final do ano passado. Desde então, novos dados coletados pelos detectores do LHC têm podido comprovar a eficácia da teoria.

Pela enunciação da mecânica estatística não extensiva, Constantino Tsallis, que coordena desde 2009 o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Complexos, tem acumulado distinções e recebido inúmeras homenagens. Uma das mais honrosas, nas palavras do próprio pesquisador, foi o título de Doutor Honoris Causa recebido em maio do ano passado pela Universidade Aristotélica de Tessalônica, na Grécia. “Essa foi também a última honraria acadêmica recebida por Ilya Prigogine, Prêmio Nobel de Química em 1977”, lembra ele.

Para falar sobre os desdobramentos, aplicações e reconhecimento ao seu trabalho, Constantino Tsallis conversou com o pós-graduando Kim Veiga para o Blog da Escola do CBPF. Confira!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Magnetorrecepção em insetos sociais

Minúsculas partículas magnéticas presentes em certas espécies de insetos podem funcionar como sensores para detecção do campo magnético da Terra e orientar o seu deslocamento. Essa é a hipótese de trabalho das biofísicas Darci Motta Esquivel e Eliane Wajnberg, pesquisadoras do CBPF, que estudam os chamados insetos sociais: formigas, abelhas, cupins e vespas.

Orientado pelas pesquisadoras, um estudo concluído há pouco mais de um ano com formigas migratórias da espécie Pachycondyla marginata revelou que esses insetos carregam um possível magnetorreceptor em sua antena  - que são os materiais magnéticos aí presentes que podem ser utilizados na orientação desses animais, como por exemplo durante a migração orientada de 13 graus em relação ao eixo geomagnético norte-sul .

A magnetorreceptação em insetos sociais é o tema do depoimento das pesquisadoras Darci e Eliane, que falam sobre seu campo de pesquisa e sobre a importância e potenciais aplicações desse fenômeno. Confira!


quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Cosmologia: uma mudança radical no modo de fazer física

A origem da vida, o surgimento do universo e as viagens no tempo estão entre as instigantes questões trazidas pela Cosmologia, cujas promessas de  respostas apelam intensamente para a  curiosidade do público.

Para o professor Mário Novello, para quem a Cosmologia  “tem produzido uma mudança radical no modo de fazer física”, as novidades científicas nesse campo podem ser muito mais sedutoras que algumas das fantasias e mitos que excitam a imaginação das pessoas e que a mídia ajuda a criar. A principal dessas novidades é a mudança do modelo padrão que explica a origem do universo. “Identificar o começo do universo com esse momento da explosão primordial, o Big Bang, não é racional”, diz Novello, que defende a teoria cosmológica do universo eterno, assunto de seu curso de pós-graduação na VIII Escola do CBPF e também de seu último livro, " Do Big Bang ao Universo Eterno", lançado em maio pela Zahar.

A teoria do universo eterno, seus argumentos e suas relações com outras teses e perspectivas cosmológicas estão entre os temas abordados pelo cientista Mário Novello, do Instituto de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica do CBPF (ICRA/CBPF) na entrevista concedida à doutoranda Josephine Rua. Confira!





Em tempo: Entre os dias 30 de agosto e 11 de setembro será realizada a XIV Brazilian School of Cosmology and Gravitation, em Mangaratiba, no Rio de Janeiro. O evento, organizado pelo Instituto de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica (ICRA) do CBPF e com o  apoio da ICRANet, rede internacional de institutos de Relatividade e Astrofísica, é um dos mais importantes da área e acontece a cada dois anos, desde 1978.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Perspectivas da física de partículas no Brasil: Enrique Arias entrevista o pesquisador João dos Anjos

"A Física no Brasil nasceu com a física de partículas elementares". É dessa maneira que o físico João dos Anjos começa a contar a história dos primeiros avanços do país nesse campo, ainda na década de 1940. A história prossegue com os desafios  envolvendo a construção dos primeiros grandes aceleradores de partículas, já na década de 1960, e com a "internacionalização" da física de partículas, na década de 1980, marcada pela entrada do Brasil no cenário dos consórcios liderados pelos grandes laboratórios do Fermilab e do CERN.

Hoje, além do ampliação da participação brasileira nos experimentos do LHC, sediado no CERN e em cujos detectores já trabalham dezenas de pesquisadores brasileiros, novas oportunidades de pesquisa têm sido abertas na área de física de neutrinos. O estudo dessas partículas, cujas propriedades apontam para uma física além do modelo padrão, tem possibilitado a participação brasileira no experimento de oscilação de neutrinos Double Chooz, reator nuclear localizado no norte da França, além de alavancar as pesquisas no reator nuclear Angra 2, utilizado também como fonte de geração de neutrinos.

Conheça a história e as perspectivas da física de partículas no Brasil na visão do pesquisador João dos Anjos, da Coordenação de Física Experimental de Altas Energias do CBPF (LAFEX), na entrevista concedida ao doutorando Enrique Arias.


terça-feira, 17 de agosto de 2010

UFPA debate Nanociência e Nanotecnologia

Na última sexta-feira (13) a VIII Escola do CBPF encerrou suas atividades com a mesa-redonda Nanociência e Nanotecnologia, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Esse evento – o último da Escola – reuniu os professores Ângela Burlamaqui (UFPA), mediadora da mesa, André Pinto e Alexandre Mello (CBPF), que explanaram sobre diversos aspectos do tema.


Na mesa-redonda, André Pinto apresentou o projeto do Laboratório de Nanotecnologia do CBPF (LABNANO), que deve entrar em operação ainda este ano. O novo laboratório, lembra André, deve atender especialmente a grupos de pesquisa atuantes na região Sudeste do país, mas também aos futuros desenvolvimentos em pesquisa já esperados da colaboração do CBPF com a Universidade do Pará. Ainda tendo como foco a colaboração entre as duas instituições, Alexandre Mello apresentou as perspectivas de aplicações e desenvolvimento de pesquisa em diversos campos do conhecimento e setores tecnológicos baseados na escala nano. Potenciais impactos ambientais da nanotecnologia, aplicações da nanotecnologia na Amazônia e políticas de desenvolvimento social esperadas nesse campo estiveram também entre os assuntos discutidos na mesa-redonda.

A edição especial da VIII Escola do CBPF em Belém teve mais de 600 inscritos, que se dividiram entre os cursos de microscopia eletrônica, nanolitografia, materiais nanoestruturados e microscopia de varredura de ponta e eletrodeposição, além de palestras de divulgação científica, ministrados pelos professores do CBPF.

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O Blog da VIII Escola do CBPF continua em atividade. Confira os próximos vídeos: João dos Anjos, Mario Novello e Constantino Tsallis

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Você sabe o que é cromodinâmica quântica?

A cromodinâmica quântica, que estuda a dinâmica entre quarks e gluons, é atualmente a teoria mais aceita para explicar fenômenos de interações fortes, como a liberdade assintótica e o confinamento. Quer entender melhor sobre o que estamos falando? Assista à entrevista do pesquisador Sebastião Alves Dias, da Coordenação de Física Experimental de Altas Energias do CBPF, ao pós-graduando Rodrigo Turcati, doutorando do CBPF, e descubra!


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

VIII Escola do CBPF na UFPA discute Nanociência e Nanotecnologia

Teve início nesta segunda-feira, dia 9 de agosto, a edição especial da VIII Escola do CBPF na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, com foco em Nanociência e Nanotecnologia. A abertura do evento, que contabilizou mais de 600 inscritos, contou com a presença dos professores Luis Carlos Bassalo Crispino, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Física da UFPA; Rubem Sommer, pesquisador do CBPF; e Erick Pedreira, pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional.

Foto: Karol Khaled

A programação integra a VIII Escola do CBPF e esta é  a primeira vez que parte da realização do evento é feita fora da sede da instituição, no Rio de Janeiro. O objetivo é levar para a região amazônica a discussão sobre a Nanociência e a Nanotecnologia, assunto em evidência na comunidade científica do Brasil.



Confira a matéria publicada no site da UFPA sobre o evento. Clique aqui.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Bilhete a um jovem físico

por Francisco Caruso*



Há muitos anos venho notando uma mudança significativa entre os alunos no meio universitário. É cada vez mais frequente ser procurado por estudantes que manifestam o interesse em “ter uma bolsa de iniciação científica”. Nestes casos, invariavelmente, minha resposta é lacônica, limitando-me a dizer que estou sem tempo para novas orientações.
Em algumas poucas ocasiões (poucas mesmo) fui interpelado para saber o que é uma iniciação científica e, assim, tive a oportunidade de tentar compreender melhor os anseios de certos jovens que desejam ser físicos. Entretanto, confesso que apenas um jovem calouro chamado Yuri Bomfim Martins me fez refletir mais seriamente sobre o que eu poderia e deveria lhe dizer que pudesse lhe ser efetivamente útil.
Lembrei-me, então, que entre 1903 e 1908, o grande poeta Rainer Maria Rilke escreveu uma série de cartas ao jovem Franz Kappus, respondendo às inquietações deste jovem que pretendia ser poeta. Tais cartas (apenas as respostas) foram publicadas postumamente, em 1929, e se tornaram um exemplo clássico de conselhos a um jovem que pretenda seguir uma determinada carreira. Eles têm o mérito de antecipar as armadilhas do cotidiano pessoal e de fugir a qualquer pretensão de apontar caminhos que possam ser vitoriosos a priori.
Tal foi a força das ponderações do poeta, que seu livro serviu – e serve até hoje – de motivação para tantos profissionais escreverem livros como Cartas a um jovem cientista, a um jovem psicanalista, a um jovem economista e assim por diante. Confesso que venho resistindo à tentação de ler estes outros textos, pois sempre desconfiei que alguns dos conselhos do próprio Rilke poderiam ser igualmente úteis a um jovem físico, por exemplo, e não gostaria de misturá-los, ainda que inconscientemente, com argumentos de outros autores. Mas em que sentido se justificaria aproveitar conselhos dados originalmente a um jovem poeta para um jovem físico? Bem, em primeiro lugar, podemos nos lembrar de Leonardo da Vinci para quem a Arte jamais significou um mero produto da imaginação subjetiva, mas sim uma atividade verdadeira e indispensável da própria compreensão da realidade. Em particular, a visão artística que Leonardo tinha da Natureza pode ser considerada como um ponto de transição metodologicamente necessário, como aponta Ernest Cassirer, que preparou o caminho para a abstração científica se inserir em uma nova percepção da Natureza a partir de Galileu. Arte e Ciências podem ser entendidas como representações distintas de uma mesma realidade. Além disto, acredito como Gaston Bachelard que há muito em comum no processo criativo tanto nas Artes quanto nas Ciências. Por último, Rilke foi capaz de identificar questões realmente basilares, comuns a todas as profissões. Dito isto, transcrevo a seguir o bilhete que enviei por email a Yuri Bomfim Martins, esperando que ele não se importe em tê-lo tornado público.



Prezado Yuri,


A primeira coisa que chama atenção lendo “Cartas a um jovem poeta” é a recorrência da palavra solidão e de outras com a mesma conotação, que aparecem nada mais, nada menos que 39 vezes em 10 cartas. Muito mais do que caminho para a depressão ou angústia, Rilke a aponta como instrumento indispensável de auto-conhecimento, de encontros. “O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não deveria fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém”. Voltar-se para si mesmo é o único caminho. Neste ponto da carta, o poeta sugere que o jovem se pergunte se para ele é realmente preciso escrever. Faça isso você também com relação à Física. Pergunte-se se ela é indispensável para você. Se a resposta for afirmativa, construa sua vida pautada nesta necessidade. “Volte-se para a natureza”, diz o poeta, e o mesmo vale para o jovem físico: volte-se para a Physis. Além disto, a solidão é inerente ao processo criativo. Por mais que você discuta e aprenda com colegas e professores, é sozinho que você cria. Dentre todos, talvez esse seja o conselho maior: só você é capaz de descobrir se você precisa criar!

Por outro lado, há coisas mais palpáveis que vamos percebendo com a experiência, que, segundo Woody Allen, é aquilo que adquirimos quando não precisamos mais. Em sua formação, dedique-se durante o curso básico a aprender e admirar as técnicas experimentais, a dominar os métodos matemáticos da Física fazendo um grande números de exercícios e, sobretudo, leia, leia muito. Não apenas sobre sua disciplina. É na prática da leitura que encontrará os instrumentos para aguçar seu espírito crítico. Não deixe de lado a história e a filosofia. Um número expressivo de grandes cientistas tinham uma formação e preocupações humanistas, como Galileu, Schrödinger, Pauli, Einstein e outros. Resista o máximo possível à tentação de fazer iniciação científica antes do quinto período. Por mais atraente que possa parecer, isto lhe tomará tempo precioso de sua formação básica. Sem contar que muitas das vezes vejo o aluno fazendo um trabalho puramente mecânico, sem nenhum proveito real para sua formação.


Sabe Yuri, sempre acreditei na existência de um Zeitgeist, e, infelizmente, o atual não é favorável ao desenvolvimento científico, como posso lhe explicar em outra ocasião. Fazem parte dele, por exemplo, a exacerbada e equivocada valorização do “publish or perish”, do “H-factor”, do “citation index” do “JCR” e assim por diante. Procure resistir a este tipo de pressão calcada em frios indicadores, os quais, na verdade, não foram criados para os objetivos para os quais acabam sendo empregados por muitos de nossos pares. Dedique-se ao tema pelo qual você se apaixone e ao qual acredita que possa dar uma contribuição importante, independente de modismos. Como disse uma vez o italiano Icilio Guareschi, referindo-se ao grande Avogadro, “os grandes méritos de um homem não devem tanto ser medidos pelo valor intrínseco de sua obra, quanto pela influência que tiveram sobre seus contemporâneos e, sobretudo, sobre o futuro da Ciência”. Isto, meu querido Yuri, não é medido em números! Por outro lado, compartilho a visão de nosso saudoso Leite Lopes, que aliás era apaixonado pela poesia de Rilke e frequentemente emocionava-se recitando-a em alemão, quando ele afirmou que “um dia, esse clima de desconfiança e desestímulo vai desaparecer”. Daí você precisar ter plena consciência de suas motivações e de seu desejo de se dedicar a uma profissão para a qual o caminho inicial que você tem pela frente é bastante longo, pois será preciso fazer 4 anos de graduação, 2 ou 3 de mestrado e uns 4 de doutorado. Com sorte, terá ainda mais 2 ou 4 anos de pós-doutorado antes que possa disputar vagas nas instituições de ensino e pesquisa. Assim, sua motivação precisa ser quase inabalável. A vantagem, como disse o próprio Rilke, é que “O senhor é tão jovem, tem diante de si todo começo”... “Alegre-se com seu crescimento, para o qual não pode levar ninguém junto...”.

Meu caro, a tentação de continuar escrevendo é grande, mas isto transformaria a proposta inicial de um bilhete em outra coisa. Quem sabe não continuamos a conversa pessoalmente em outra ocasião? Gostaria, portanto, de encerrar com algumas palavras que Rilke teve o cuidado de inserir em uma de suas cartas: “Se ainda posso acrescentar algo, é o seguinte: não acredite que quem procura consolá-lo vive sem esforço, em meio às palavras simples e tranquilas que às vezes lhe fazem bem. A vida dele tem muita labuta e muita tristeza e permanece muito atrás dessas coisas. Se fosse de outra maneira, nunca teria encontrado aquelas palavras”. Um forte abraço,


Caruso.




* Francisco Caruso é Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Pesquisador Titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Resultado do sorteio de kit de camisa + livro da coleção Tópicos de Física

Confiram o resultado do sorteio pelo twitter de cinco kits compostos por uma camisa oficial da VIII Escola do CBPF e um livro da coleção Tópicos da Física!

http://sorteie.me/HTO

  http://sorteie.me/HUo

Parabéns aos ganhadores @joeysalgado @markinalves @hsegundo @renato_mourao e @leobvital!
Enviem seus e-mails por DM que entraremos em contato para entrega dos kits!

Encerramento da VIII Escola do CBPF


Durante duas semanas, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas recebeu na oitava edição da Escola do CBPF estudantes de graduação e pós-graduação de diversos estados brasileiros. Alguns dos melhores professores e pesquisadores do Brasil compartilharam seu conhecimento e experiência em cursos e palestras sobre as mais diversas áreas da Física. Toda a organização da Escola foi feita com muita dedicação para receber da forma mais hospitaleira possível todos os participantes. No
entanto, o maior êxito desta edição da Escola é devido a você, participante. Você que se dedicou aos cursos, assistiu às palestras, confraternizou conosco nos coquetéis, participou ativamente do twitter e do blog da VIII Escola. Agradecemos a você, que compartilhou conosco sua alegria, seu interesse pela ciência e tornou o CBPF tão mais rico - com a diversidade de sotaques, de culturas e costumes - nesses últimos 15 dias!

Por isso, convidamos você a estar conosco na cerimônia de encerramento da VIII Escola do CBPF, que acontece hoje, às 18h, no auditório Ministro João Alberto Lins de Barros, e logo após curtir o ensaio aberto da banda Queda Livre, formada pelos físicos popstars do CBPF, no auditório Oliveira Castro.

Até a próxima Escola do CBPF!
   
 
 
 
Ps: O blog continua a todo vapor até o encerramento da Escola do CBPF na UFPA! Continue nos acompanhando!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Você sabe o que é computação quântica?

Você sabe o que é computação quântica? Saiba mais sobre o tema e sobre o trabalho desenvolvido no CBPF neste campo assistindo a entrevista do pesquisador Roberto Sarthour, da Coordenação de Física Experimental de Baixas Energias, ao pós-graduando Bruno Gomes, mestrando do CBPF.



Em tempo: O professor Roberto Sarthour é também o coordenador do Programa de Iniciação Científica do CBPF. A XVII Jornada de Iniciação Científica do CBPF acontece na próxima semana - entre os dias 3 e 5 de agosto. Mais informações na página:
http://portal.cbpf.br/index.php?page=FormacaoCientifica.inicientifica_jornada2010

No CBPF a física é POP!

Se você não pôde participar ou não foi contemplado no sorteio de livros da coleção Tópicos de Física, realizado ontem durante o lançamento da coleção, não fique triste!

Vamos sortear no twitter do CBPF cinco kits, cada um composto por uma camisa oficial da VIII Escola do CBPF e um livro da coleção Tópicos de Física! Quem quiser concorrer, deverá seguir nosso twitter (@CBPF_MCT) e retwittar a seguinte frase, com o link:

No @CBPF_MCT, a física é POP! RT e concorra a 5 kits com camisa da VIII Escola e um livro da coleção Tópicos de Física http://migre.me/10OD8

O sorteio será feito amanhã, dia 30 de julho, às 17h30.

Boa sorte!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ivan Oliveira fala sobre a pós-graduação no CBPF

"Nos cursos de Pós-Graduação em física no Brasil, existe uma grande preocupação com que o aluno tenha uma formação básica bastante sólida. Isso se reflete através de exigências da CAPES, por exemplo, de que disciplinas como Mecânica Quântica, Eletromagnetismo, Mecânica Estatística, sejam obrigatórias. Mas, por outro lado, os estudantes devem possuir também uma formação na área em que atuam. Qual deve ser o papel de instituições de peso como o CBPF, que participam da criação destas normas, em conciliar estas duas preocupações, ou seja, garantir uma formação básica sólida, mas tomando o cuidado para que as pós-graduações não fiquem obsoletas, oferecendo cursos repetitivos, enciclopédicos?"

Essa foi uma das questões levantadas pelo pós-graduando Jefferson Morais, doutorando do CBPF, em entrevista com o pesquisador Ivan Oliveira, da Coordenação de Formação Científica (CFC). Confira a entrevista:

terça-feira, 27 de julho de 2010

Lançamento da Coleção Tópicos de Física

Amanhã, dia 28 de julho, às 18h, temos o lançamento da Coleção Tópicos de Física, no hall do CBPF.

A coleção tem até agora 14 livros e está sendo vendida no CBPF pelo preço especial de R$ 25,00. Um superdesconto!

Durante o lançamento, a organização da VIII Escola do CBPF vai sortear entre os participantes sete kits, cada um com quatro livros da coleção!

Quem quiser participar do sorteio, deverá se inscrever na secretaria da Escola até amanhã, às 17h.

Não perca!

Por dentro do LHC

O grande acelerador de partículas LHC, que entrou em funcionamento no final do ano passado, tem sido um dos assuntos que mais recebe atenção da mídia - não só a especializada - pela curiosidade que desperta também entre leigos, para os fenômenos físicos que só podem ser produzidos em altíssima escala de energia.

No rastro desse interesse, publicamos aqui, no dia 21 de julho, o texto do professor Francisco Caruso, que falou sobre como esse experimento – que é considerado o maior empreendimento científico e tecnológico da atualidade – pôde mobilizar o trabalho de tantos colaboradores  - são mais de 37 países e uma numerosa equipe de especialistas liderados pelo CERN (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares) – envolvidos na missão de fazer avançar o conhecimento científico.

No post de hoje, retomamos o assunto com a entrevista do pesquisador André Massaferri, da Coordenação de Física Experimental de Altas Energias do CBPF, ao doutorando Eduardo Zambrano, que quer saber sobre a compatibilidade entre o trabalho teórico e os resultados do experimento LHC. Assista à entrevista, que conta com imagens feitas por André Massaferri em uma de suas muitas visitas de colaboração ao CERN.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Atendendo a (muitos) pedidos… os popstars do CBPF!

Há um mês exatamente, nós confirmamos aqui: sim, a Física é pop! Mas onde estão  os popstars do CBPF? Bem, há mais de três anos, eles se reúnem pelo menos uma vez por semana no final da tarde, e não é para falar de Física, pelo menos não seriamente... O assunto desses pops é música, mais especificamente, blues. Os encontros da banda - QUEDA LIVRE, para manter a conexão com a ‘outra’ paixão que os aproximou - são abertos: quer dizer, é só chegar e participar, no mais puro espírito de uma  jam session. E o grupo - hoje seis guitarristas (é isso mesmo!!!), dois vocalistas, baixista, baterista, gaitista... e  quem mais aparecer - só tem compromisso com a diversão.  No repertório do QUEDA LIVRE estão  The Thrill is gonne (BB King), Wake Up Call (John Mayall) e  Cocaine (Eric Clapton), que vocês ouvem nesse clip que preparamos, registrando alguns momentos dos ensaios da banda. Façam como eles e divirtam-se!



Formação da banda:

Guitarras: Ivan Oliveira, João Paulo Sinnecker, Itzhak Roditi, Roberto Sarthour (pesquisadores) e Márcio Gonçalves Nunes (mestrando)

Baixo: Rubem Sommer (pesquisador)

Bateria: Cássio Leite Vieira (Jornalista, Instituto Ciência Hoje)

Gaita: César Raitz Júnior (doutorando)

Voz: Maury Duarte Correia (voz/guitarra) e Gabriel Di Lemos Santiago Lima (doutorandos)

Para conhecer as linhas de pesquisa em que trabalham (e muito!) esses nossos pops, consulte o Portal do CBPF (www.cbpf.br)

Luiz Alberto de Oliveira fala sobre a próxima palestra da Escola: "Filosofia natural do espaço e o tempo"

Na próxima segunda (26 de julho), o pesquisador do CBPF, Luiz Alberto Oliveira, fala sobre o significado do tempo na cultura ocidental. Com a palestra "Filosofia Natural do Espaço e o Tempo", ele pretende mostrar que as noções de espaço e tempo que utilizamos são sofisticadas construções históricas e cumulativas que resultam de uma série de inovações e mudanças no campo das ideias e das técnicas. A proposta da palestra é estimular uma reflexão, pela ótica da física, sobre o significado desse conceito para o conhecimento da Natureza e de outros campos da cultura.

Luiz Alberto de Oliveira, que faz parte ainda da equipe de curadoria do Museu do Amanhã, fala também sobre  a concepção inovadora desse projeto, que, diferente dos museus de ciências tradicionais, com coleções de artefatos que registram o passado, ou dos centros de ciências, que demonstram os fatos através de experimentos, é a de um museu de possibilidades: “uma espécie de portal do tempo em que o visitante conecte o hoje, onde as ações são realizadas, isto é, o domínio das causas, com os possíveis cenários do amanhã”.

Previsto para ser inaugurado em 2012, durante a Terceira Cúpula da Terra (Rio+20) - encontro dos líderes mundiais para avaliar o engajamento com  o desenvolvimento sustentável do planeta - o Museu do Amanhã, uma iniciativa da Prefeitura do Rio, tem projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava e será instalado na Zona Portuária do Rio de Janeiro, onde hoje funcionam os Armazéns 5 e 6 do Pier Mauá.

O encontro com o físico Luiz Alberto Oliveira acontece dia 26, às 18h30, na sede do CBPF (Rua Dr. Xavier Sigaud, 150 – Urca, próximo ao Shopping Rio Sul), e a entrada é aberta ao público.

Confira agora o vídeo do professor Luiz Alberto de Oliveira:

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Mestrado Profissional do CBPF tem inscrições abertas até 6 de agosto

Programa, que é pioneiro na área, completa dez anos

Com inscrições abertas desde o início de julho, o Mestrado Profissional em Física com ênfase em Instrumentação Científica do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)  está recebendo até 6 de agosto candidatos ao exame de admissão para o próximo semestre de 2010.

O programa, que completa 10 anos e é pioneiro na área de instrumentação científica, foi criado para suprir uma lacuna na oferta de mão-de-obra requerida pelos grandes centros de pesquisa: “um profissional capaz de aplicar métodos de pesquisa e desenvolver equipamentos inovadores ou modificar, de alguma forma, a infraestrutura já existente”, afirma Geraldo Cernicchiaro, coordenador do Mestrado Profissional.

Segundo Cernicchiaro, a proposta do programa é utilizar a infraestrutura do CBPF – que dispõe, entre vários outros, de laboratórios de pesquisa em instrumentação e medidas, altas energias e sistemas de detecção, além de serviços de criogenia, magnetometria e eletrônica e computação – para desenvolver instrumentação de qualidade tanto para a pesquisa em física quanto para a indústria, sempre com foco na inovação. O mestrado, ressalta ele,  “não está necessariamente ligado à área acadêmica. Vários alunos que passaram por aqui estão no mercado, trabalhando em empresas como a Petrobras, ou em institutos de pesquisa no exterior, como o CERN (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares), na Suíça, ou no Instituto Nacional de Física Nuclear, em Roma”.

Desde 2000, o Mestrado Profissional do CBPF, hoje com 17 alunos matriculados, soma 22 dissertações defendidas – com ênfase em desenvolvimento de sistemas e instrumentos de medição, automação, aperfeiçoamento de técnicas experimentais com foco em inovação - e várias patentes depositadas: “produzimos um detector para identificar a fuga de hélio na tubulação do sistema de reaproveitamento desse gás no CBPF, cujas características não têm similares no mercado”, acrescenta o coordenador do programa.

O Mestrado Profissional do CBPF tem duração de dois anos, corpo docente altamente qualificado (com 24 doutores)  e é dirigido a físicos, químicos, engenheiros e demais profissionais de exatas. O próximo exame de seleção ocorre no dia 9 de agosto, e as inscrições devem ser feitas exclusivamente pela internet. Mais informações e formulário de inscrição estão disponíveis neste link. Para saber mais sobre instrumentação científica e sobre o Mestrado Profissional do CBPF, assista a seguir ao vídeo do coordenador do programa.




Na VIII Escola do CBPF: Fundamentos para Eletrônica de Sistemas de Medidas
 
Durante a VIII Escola do CBPF, o professor Geraldo Cernicchiaro ministra o curso Fundamentos para Eletrônica de Sistemas de Medidas (G18), voltado para estudantes de graduação. O objetivo do curso é  apresentar fundamentos físicos para se entender a eletrônica, e  as bases de tecnologia moderna, a partir de elementos funcionais como amplificação, modulação, transmissão, demodulação e processamento de sinais elétricos, focando principalmente aplicações em laboratórios de física experimental. Confira a ementa no site da Escola.

Ainda Física Moderna: um pouco sobre o LHC


O LHC (sigla da expressão em inglês Large Hadron Collider), a mais complexa máquina dedicada a um propósito científico projetado pelo homem, tem aparecido frequentemente na mídia desde o início de sua operação, em 10 de setembro de 2008. Infelizmente, devido a um precoce incidente, nem sempre seus aspectos positivos, científicos ou técnicos, têm sido discutidos e enfatizados. Na verdade, fez-se muito sensacionalismo acerca deste incidente e de um hipotético risco para a população geral, como a criação de um buraco negro que poderia tragar tudo ao seu redor. Tal temor não se justifica como já foi dito por muitos. Aqueles que participarão da Escola do CBPF este ano terão oportunidade de ver alguns pesquisadores abordarem a questão a partir de olhares diversos, tanto do ponto de vista teórico como experimental. Neste post, pretendo apenas enfocar o aspecto da inserção desta máquina na busca pelo conhecimento da estrutura última da matéria e como ela é uma vitrine da fronteira da Física Moderna, além de tecer alguns comentários sobre os equívocos que têm aparecido em diferentes mídias e artigos.

Como todos os aceleradores de partículas que o antecederam, o LHC baseia-se na idéia genérica de que quanto maior for a energia da partícula que compõe o feixe que irá sondar a matéria, mais ela pode penetrar nos mistérios da estrutura última da matéria. Este fato simples é uma conseqüência direta da relação de Louis de Broglie, estabelecida em 1924. 

Já Ernest Rutherford, preocupado em compreender a estrutura atômica durante a segunda década do século XX, inaugurou o que se pode chamar de experimento de alvo fixo, no qual um feixe incide sobre uma lâmina delgada de um metal ou sobre um recipiente com gás. Já os colliders (anéis colisores) são aceleradores que fazem colidir um feixe contra outro, que é um problema de engenharia muito complexo, mas capaz de dobrar a energia da colisão no centro de massa. Imagine fazer dois feixes de seção reta da ordem de 17 microns (aproximadamente 1/3 do diâmetro médio de um fio de cabelo fino) colidirem depois de percorrerem um anel subterrâneo de 27 km de diâmetro! Além disto, um outro fator é decisivo na escolha de sondar as menores partículas do universo desta forma: o fato de se ter um controle bem maior sobre o feixe e sobre um conjunto de parâmetros físicos envolvidos no experimento. Por exemplo, se compararmos as energias mais altas obtidas hoje em aceleradores com as de raios cósmicos, as primeiras são bem menores, mas a estatística alcançada (o número de eventos de uma particular reação que pode ser medida com os dois meios) é muito maior.

 Vista aérea - CERN [imagens: CERN]

Além dos desafios de engenharia, o LHC também coloca outros em áreas estratégicas, tais como a mecânica de precisão, a eletrônica e a informática. Todos sabem, por exemplo, que o www foi desenvolvido no CERN em torno do problema concreto de comunicação entre milhares de físicos e engenheiros envolvidos em um típico experimento moderno de física de altas energias. Os tempos a serem medidos são os menores possíveis, as distâncias, as mínimas possíveis etc. Tudo isto faz parte de um complexo projeto científico, movido essencialmente pela curiosidade científica, mas capaz de alavancar uma enorme soma de encomendas às indústrias de ponta. E aqui nos vemos de frente a um ponto delicado, pois mesmo alguns membros da comunidade científica acabam sucumbindo à tentação de justificar seu trabalho a partir destes frutos e deste “lucro”. Isto é um grande equívoco, na realidade. Uma justificativa a posteriori é que pode se constatar historicamente que mesmo o apoio descompromissado às atividades de Ciência básica dá frutos embora, a maior delas, seja a capacitação de novos quadros técnico-científicos e um avanço da compreensão de como a natureza funciona. É a curiosidade científica que deve ser apoiada, não os seus louros. 

Uma das motivações para a construção do LHC foi a perspectiva de se detectar o chamado bóson de Higgs, a única das 32 partículas do Modelo Padrão que ainda não foi encontrada experimentalmente. Já se passaram 44 anos desde que ela foi proposta teoricamente como a partícula que atribui massa a algumas outras, um mecanismo sem o qual o Modelo Padrão seria um quebra-cabeça no qual está faltando uma peça. O que significa encontrá-la? E se ela não for detectada? O que seria mais importante para a Ciência? Alguém que se considera um popperiano (alusão ao filósofo Karl Popper, segundo o qual a Ciência progride quando uma teoria é refutada e não comprovada), por exemplo, preferiria que ela não fosse encontrada, pois assim haveria um real avanço da Ciência, pois todo o Modelo Padrão deveria ser revisto. Refutar uma teoria às vezes é mais importante do que confirmá-la. Aliás, a perspectiva de se encontrar “uma nova Física” ou a “Física além do Modelo Padrão” são também motivações por trás do LHC que não podem ser desprezadas.

CMS Open - Assembly of the CMS Detector [imagens: CERN]

Para tudo isso se construiu o LHC que acelera prótons a até 7 trilhões de elétrons-volt (TeV) a ser comparado com a energia mc2 do próton em repouso que é igual a cerca de 1 GeV. A ideia é que o choque entre os prótons resulte em uma energia de 14 TeV. O colisor conta com 1,8 mil magnetos supercondutores e 7 mil quilômetros de fios supercondutores, de modo que os prótons possam percorrer dezenas de quilômetros a 99,9% da velocidade da luz e se chocarem 40 milhões de vezes por segundo. Tais colisões gerarão uma temperatura 100 mil vezes superior à do Sol – semelhante à do Big Bang – o que, inevitavelmente, leva algumas pessoas desavisadas a se preocuparem com a recriação do Big Bang ou com a criação de buracos negros que absorveriam tudo ao seu redor. Ora, será que é para se preocupar com isso? Lembre que um raio quando alcança a terra gera uma temperatura da ordem daquela na superfície solar e existe ainda um maçarico de plasma, usado na indústria automobilística, que atinge temperaturas da ordem de 16 mil graus celsius, ou seja, cerca de três vezes maior que a do Sol. Nem por isso, no entanto, as pessoas acreditariam que há um risco de se recriar o Sol aqui na Terra a partir deste maçarico, por exemplo. A temperatura não é o único parâmetro em jogo, naturalmente.

Quanto ao “risco” de se recriar o Big Bang, podemos ficar tranquilos, pois, se é que ele existiu, foi uma explosão muito muito muito peculiar, na qual inclusive o espaço-tempo teria sido criado. Tal situação não poderá nunca ser alcançada ou reproduzida. De mais a mais, como no exemplo dado acima, o fato de que, com a energia disponível no LHC hoje, se pode sondar tempos da ordem de 10^{-20} segundos, não quer dizer necessariamente que as condições criadas neste laboratório sejam semelhantes às do Universo decorrido este tempo após o Big Bang. Aliás, alguns físicos sustentam que para efetivamente se chegar a pensar em reproduzir algumas das condições da criação do universo seria necessário alcançar medidas de tempo da ordem de 10^{-43} segundos.

Em suma, o LHC é um belo exemplo de o quanto o homem, movido pela curiosidade científica, é capaz de criar quando se dispõe a colaborar com outros, a compartilhar seu conhecimento em prol de um objetivo científico comum. Quiçá esse exemplo fosse compartilhado por políticos e outros setores da sociedade. Sonhando com essa perspectiva, podemos por a cabeça tranquilos em nossos travesseiros e torcer para que o LHC cumpra seu papel de fazer a Ciência avançar.



* Francisco Caruso é Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Pesquisador Titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Blogs de ciência podem estimular o engajamento público em temas de C&T?

A farmacêutica Fernanda Poletto, blogueira do Bala Mágica, publicou em seu blog neste sábado (17 de julho), uma reflexão bastante instigante sobre o papel dos blogs e das novas mídias sociais na divulgação do conhecimento científico. Fernanda estará conosco na VIII Escola do CBPF, participando da formação da mesa-redonda "A prática da divulgação científica e as novas mídias sociais", ao lado dos também blogueiros Dulcídio Braz Júnior (blog Física na Veia!), professor do Colégio Anglo, e Leandro Tessler (blog Cultura Científica), professor do Instituto de Física Gleb Wataghin  (IFGW/UNICAMP), com mediação de Marcelo Knobel (IFGW/UNICAMP).

Confira o artigo da blogueira e não deixe de participar da mesa-redonda, que acontece amanhã, dia 20 de julho, às 18h30, no auditório Ministro João Alberto Lins de Barros, no CBPF (Rua Xavier Sigaud, nº 150 - Urca).

"Há pouco mais de um ano, percebi que havia uma grande lacuna no conhecimento das pessoas em geral sobre nanobiotecnologia e seus impactos. E as pessoas têm o direito de saber sobre esse assunto, sem histrionismos ou falácias, já que esta tecnologia estará cada vez mais presente no dia-a-dia de todos. Não sou jornalista, não sou dona de revista ou jornal, nem sequer faço parte do corpo docente de alguma universidade (ainda sou aprendiz, com todas as vicissitudes de tal condição). No entanto, tenho um computador e acesso à internet, além de ideias... e um gosto especial pela escrita. Daí a usar um weblog como ferramenta para divulgar o tema Nanobiotecnologia, que é meu foco de estudo offline, foi um pulo. Mas qual meu objetivo, no final das contas? Informar? Ensinar? Criticar? Intercalar a função de arauto da boa-nova com a de advogada-do-diabo frente a um suposto milagre? Talvez tudo isso junto. Engraçado como às vezes só refletimos mais profundamente sobre nossas práticas quando há um estímulo pontual para que isso aconteça. O meu foi um convite muito especial que recebi há alguns meses: participar de uma mesa-redonda intitulada "A prática da divulgação científica e as novas mídias sociais", que ocorrerá durante a VIII Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT). O tema é novo e ainda se falará muito dele: como (e porque) weblogs e redes sociais podem ser agentes difusores do conhecimento científico e gatilhos para o engajamento público nos temas de C&T. No entanto, é difícil entender o novo sem conhecer aquilo que o precedeu. Por isso, olhar para trás foi meu primeiro movimento para tentar clarear algumas ideias que vêm rondando meus pensamentos desde que o Bala Mágica foi lançado.

Antes do século XVII, não havia uma distinção clara entre ciência e filosofia. A partir do século XVII, alguns pensadores, como o italiano Galileu Galilei (1564-1642), o francês René Descartes (1596-1650) e o inglês Isaac Newton (1642-1727), quebraram paradigmas ao defender o uso da experimentação, do método, da matemática e a exclusão do misticismo para entender os fenômenos naturais. Não é a toa que os historiadores chamam esse período de Revolução Científica. Logicamente, o ambiente social daquela época propiciou tal revolução. Dentre os acontecimentos que favoreceram a Revolução Científica cabe destacar a invenção da prensa móvel pelo alemão Johannes Gutenberg (1398-1468), que por si só já iniciou outra revolução, a da Imprensa. Eis a primeira reflexão: comunicação sempre foi uma peça-chave para o estabelecimento e a propagação da ciência.

O advento da imprensa tirou as amarras impostas por um conjunto de clérigos sobre o que é a Verdade, já que a produção de material escrito não era mais privilégio de alguns sacerdotes enclausurados em seus mosteiros. Estava dada a largada para a disseminação do livre-pensamento. Pelo menos na teoria e pelo menos para os "incluídos", capazes de ler. Desde então, o número de alfabetizados aumentou, e o custo para adquirir livros, revistas, jornais, etc foi se tornando mais acessível. De lá para cá, a ciência evoluiu e, com ela, cresceram as esperanças de que as descobertas científicas contribuiriam para tornar o mundo um lugar melhor. Começou a surgir a noção de que era preciso "educar o povo" nas coisas de ciência, por meio da transmissão do conhecimento do especialista para o leigo, de forma verticalizada. No entanto, o acúmulo de informação não significa a compreensão dessa informação. E a informação fora de um contexto socioeconômico raramente desperta interesse público. Isso é particularmente importante no caso de assuntos científicos, porque a ciência gera muito mais perguntas que respostas, e jamais será capaz de oferecer uma Verdade, mas apenas modelos e aproximações. Essa ideia de transmissão verticalizada da informação passou a ser questionada, e estratégias dialógicas foram (e ainda são) propostas para substituí-la. Passou-se a falar em dar uma chance ao diálogo entre cientistas e leigos. E um diálogo é feito de perguntas e respostas. Eis a segunda reflexão: talvez a comunicação científica deva cada vez mais incluir as perguntas, e não só oferecer as respostas. A comunicação de ciência não pode mais ser uma via de mão única. Afinal, cabe à sociedade debater quais perguntas são mais importantes/urgentes, pois é esta sociedade quem sentirá as implicações dos avanços da C&T. Mais que informar sobre as últimas novidades dos periódicos científicos, a divulgação científica deve fomentar o exercício da cidadania.

Será que a internet, com seu efeito de rede e alto poder de disseminação de informações, pode fazer diferença nesse processo? Quais seriam as consequências disso e os desafios a serrem enfrentados, hoje e no futuro? Essas perguntas suscitaram mais reflexões, que reservo para o debate com os professores Dulcidio Braz Júnior (do blog Física na Veia!) e Leandro Tessler (IFGW/UNICAMP, do blog Cultura Científica), com moderação do professor Marcelo Knobel (IFGW/UNICAMP), nessa terça-feira (20/07), que ocorrerá às 18h30min no CBPF.
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Sejam bem-vindos à VIII Escola do CBPF!!

Hoje, dia 19 de julho, tem início a VIII Escola do CBPF!

Durante duas semanas, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas promove uma série de cursos voltados para estudantes de graduação e pós-graduação, e encontros abertos ao público, com palestras e mesa-redonda, que vão reunir os mais de 400 inscritos nesta edição da Escola!

Além disso, a cerimônia de abertura da VIII Escola do CBPF conta ainda com a entrega do Prêmio CBPF de Física ao pesquisador Vanderlei Bagnato, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), que vai nos dar uma palestra a respeito do trabalho premiado. Ele foi escolhido pela Comissão Julgadora do Prêmio pelo trabalho em que demonstrou pela primeira vez o fenômeno de turbulência em um condensado Bose-Einstein e revelou as condições em que tal turbulência pode ser controlada.Você não vai querer perder!

Esperamos que você possa aproveitar ao máximo cada minuto desta Escola, que foi preparada com muita dedicação e empenho de todos os organizadores, professores participantes e pesquisadores do CBPF. Aproveitamos a oportunidade para pedir sua colaboração para o nosso blog! Comente, dê sugestões, divulgue, envie fotos para nossa galeria...Este espaço também é seu!

Agora, receba as boas-vindas do professor Luiz Sampaio, coordenador da VIII Escola do CBPF!





Até mais! 

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lançamento da Coleção CBPF Tópicos em Física

No dia 28 de julho, às 18h, durante a VIII Escola do CBPF, O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas lança a Coleção CBPF Tópicos em Física.

Serão lançados inicialmente 14 volumes, a saber: Introdução à Física de Partículas; Eletrodinâmica Não Linear: Causalidade e Efeitos Cosmológicos; Correlações Quânticas no Espaço de Fases; Cosmologia; Reflexões Sobre Historiografia e História da Física no Brasil; Partículas Elementares no Ensino Médio: Uma Abordagem a Partir do LHC; Técnicas de Medidas Magnéticas; Introdução à Microscopia de Força Atômica; Teorias e Interpretações da Mecânica Quântica; Magnetismo Molecular; Física em Computadores; Meteoritos: Cofres da Nebulosa Solar; Eletrônica Analógica Essencial: Para Instrumentação Científica; Uma Introdução à Microscopia Eletrônica de Transmissão.

Segundo o pesquisador do CBPF Ivan Oliveira, coordenador da CFC (Coordedenação de Formação Científica), a expectativa é "que esta Coleção estimule o ensino de Física no CBPF e fora dele, e que possa crescer atraindo novos autores brasileiros". 


terça-feira, 13 de julho de 2010

Bate-papo: Juan Guillermo Dueñas entrevista o pesquisador João Paulo Sinnecker

Em breve, o CBPF vai inaugurar um laboratório multiusuário de pesquisas em Nanociência e Nanotecnologia, o LABNANO. Quer saber qual a importância desse laboratório e quais os  experimentos que serão aqui desenvolvidos? 

Essas questões estão na entrevista de Juan Guillermo Dueñas, estudante de mestrado do CBPF, com o professor João Paulo Sinnecker, pesquisador da Coordenação de Física Experimental de Baixas Energias do CBPF. Confira!



sábado, 10 de julho de 2010

Bate-papo: Thiago Assimos entrevista o pesquisador Antônio Teixeira


Quem nunca teve curiosidade sobre a forma do Universo? Essa é uma das questões estudadas pela Topologia Cósmica, tema da entrevista feita pelo estudante de mestrado do CBPF, Thiago Assimos, do grupo de pesquisa de Teoria de Campos e Partículas Elementares, com o professor do CBPF Antônio Teixeira, do Grupo de Cosmologia Orientada para Observação.

Confira!




quarta-feira, 7 de julho de 2010

Depoimento exclusivo do vencedor do Prêmio CBPF de Física!

Uma das novidades da VIII Escola do CBPF é a entrega do Prêmio CBPF de Física, que irá acontecer durante a cerimônia de abertura da Escola - dia 19 de julho, às 16h. O vencedor, anunciado em maio deste ano, é o físico Vanderlei Bagnato, professor titular da Universidade de São Paulo (USP). Ele foi escolhido pela Comissão Julgadora do Prêmio pelo trabalho em que demonstrou pela primeira vez o fenômeno de turbulência em um condensado Bose-Einstein e revelou as condições em que tal turbulência pode ser controlada.

O Prêmio CBPF de Física foi lançado no final de 2009, com o objetivo de reconhecer e valorizar a excelência de contribuições pontuais desenvolvidas no Brasil, na área de Física. Patrocinada pela empresa Lasertools Tecnologia Ltda., o ganhador será contemplado com medalha, diploma e a quantia de 20 mil reais. Segundo a Comissão Julgadora do Prêmio, a seleção levou em conta a técnica elegante e eficiente utilizada por Bagnato e sua equipe na demonstração do fenômeno, frisando que o "trabalho apresenta claramente as características indicativas de uma contribuição científica seminal para investigações futuras de fluidos quânticos".

Além do Prêmio, Vanderlei Bagnato conta em seu currículo com algumas centenas de artigos publicados em periódicos especializados e inúmeras colaborações científicas na área de Física Atômica, tendo sido eleito membro da Academy of Sciences for the Developing World no ano passado.

O blog da VIII Escola do CBPF não poderia deixar passar a oportunidade de abrir espaço para o professor Vanderlei Bagnato! Pedimos a ele que contasse especialmente para o blog sobre o trabalho premiado e sobre a importância do Prêmio CBPF de Física. Confira:


terça-feira, 6 de julho de 2010

Bate-papo: Eduardo Bittencourt entrevista o pesquisador Nelson Pinto

"A Mecânica Clássica, o Eletromagnetismo e outras teorias da Física não permitem uma 'liberdade' de interpretação. No caso da Mecânica Quântica, o que permite que essa teoria possa ter várias interpretações e quais são os aspectos comuns a essas interpretações?" Essa é uma das questões que o pós-graduando Eduardo Bittencourt, estudante de Doutorado do CBPF, levou para o bate-papo com o professor Nelson Pinto, pesquisador da Coordenação de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica do CBPF.

Você também tem alguma questão sobre o tema? Aproveite o curso "Interpretações da Mecânica Quântica", voltado para estudantes de pós-graduação, que o pesquisador vai ministrar durante a VIII Escola do CBPF!

Confira a entrevista!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Encontros abertos ao público da VIII Escola do CBPF

Já estamos em contagem regressiva para o início da VIII Escola do CBPF, que acontece de 19 a 30 de julho

Além dos cursos voltados para os estudantes de graduação e pós-graduação inscritos no evento, a Escola preparou uma série de encontros abertos ao público, que acontecerão sempre às 18h30. No site da VIII Escola do CBPF você encontra mais informações sobre a mesa-redonda (20/07) e as palestras (22,26,27 e 29/07).

Confira no cartaz abaixo a programação dos encontros. Nos vemos lá!


  
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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Física Moderna na sala de aula: sonho ou uma realidade viável?

por Francisco Caruso*

Muito se tem falado sobre a necessidade de se ensinar Física Moderna antes da graduação e muitos têm questionado sua viabilidade. Para os mais incrédulos eu diria, para começar, que obviamente isto é possível. Basta lembrar o que aconteceu historicamente: os ensinamentos de Galileu e de Newton, só para citar dois dos mais conhecidos, já foram parte integrante de uma Física de fronteira e hoje são ensinados sem obstáculos no ensino médio. É claro que já houve época na qual a contribuição científica destes autores ficou fora da escola por motivos ideológicos, pois conflitavam com a Física aristotélica, abraçada como dogma pela Igreja Católica. Superado este tipo de problema, entretanto, qual ou quais os empecilhos?


O primeiro movimento de mudança já está em curso no Brasil: há vários grupos elaborando propostas de ensino de certos conceitos de Física Moderna, mas, na maioria das vezes, de forma pontual. Neste processo, revistas como a Revista Brasileira de Ensino de Física e o Caderno Brasileiro de Ensino de Física desempenham importante papel. No entanto, a absorção real das propostas divulgadas em artigos é muito lenta e acaba tendo influência muito localizada. 
  Laser: exemplo de aplicação da física moderna

Outra tendência louvável neste sentido são os cursos de especialização e mestrados profissionalizantes voltados para docentes do ensino médio e do fundamental. Entretanto, em minha opinião, falta um movimento institucional mais amplo voltado para uma radical reformulação das licenciaturas em Física. Gostaria de ver uma revalorização do conteúdo comprometida com o fato de ser a Física uma ciência experimental, ao mesmo tempo em que se pensa em novos conteúdos e novas formas de transmitir o conhecimento científico. Gostaria de ver um novo professor que durante toda a sua formação universitária se preocupou e refletiu sobre como ensinar (inclusive a Física Moderna). Talvez a SBF pudesse propor e coordenar uma discussão nacional sobre as licenciaturas. Sou favorável a um novo currículo mínimo de licenciatura, completamente diferente dos atuais. Só assim poderemos parar de nos preocupar com a assim chamada “reciclagem” dos professores e nos dedicarmos mais à qualidade da formação dos novos profissionais e dos jovens.   
Detalhe do detector CMS no LHC - o maior acelerador do mundo,fruto da Física Moderna [imagens: CERN]

Outra vertente do problema de como ensinar Física Moderna em nossas escolas está no fato de que elas ainda estão formando jovens que concluem o ensino médio com uma visão aristotélica da Física, como mostrei no artigo A queda dos corpos e o aristotelismo: um estudo de caso do vestibular, analisado em a Persistência do Aristotelismo. Na verdade, não é difícil compreender esta tendência, uma vez que o aristotelismo na ciência é uma boa expressão do senso comum, tão predominante em países com alto nível de analfabetismo funcional e científico. Segue-se, portanto, logicamente, a pergunta: como ensinar Física Moderna para alunos que ainda pensam como Aristóteles e sequer compreenderam a Física de Galileu? Há ainda um agravante, como bem disse meu amigo Ruben Aldrovandi ao comentar nosso livro Física Moderna: Origens Clássicas e Fundamentos Quânticos. Para ele, a Física Moderna está “imersa na milenar história dos embates culturais, que foram aos poucos libertando os cientistas do imediato e os inspiraram por caminhos para os quais a experiência cotidiana não serve mais de guia”. Logo, o desafio é: os alunos ainda pensam em conformidade com o senso comum, mas este não serve para se compreender ou estabelecer analogias em Física Moderna. Acho que este ponto deve ser, na verdade, a base de qualquer reflexão crítica de como introduzir conceitos contemporâneos da Física no ensino médio. Sem conhecermos a realidade de nossos alunos, é difícil construir propostas eficazes. Claro que, com o tempo, as coisas termalizam e se acaba chegando a um denominador comum do que ensinar e como fazê-lo, mas meu ponto é que este tipo de processo é sempre muito lento.

Na verdade, a partir da observação do Aldrovandi, diria que a História da Ciência pode ser um instrumento importante em novas propostas de ensino de Física Moderna nas escolas, aliada a bons textos de divulgação científica. Posso citar, como um exemplo, algo que aconteceu comigo. Como já declarei em outra ocasião, minha escolha de fazer Física de Partículas em muito se deve às aulas que tive sobre os modelos atômicos de Thomson, Rutherford e Bohr no ensino médio, todas fortemente calcadas em informações históricas. O detalhe aqui, que não deixa de ter uma ponta de ironia, é que este assunto – que já é um assunto centenário – foi e continua sendo ensinado nas aulas de Química e não de Física, embora sejam modelos físicos do átomo.


Entretanto, quero concluir enfatizando que não acredito em nenhuma mudança em larga escala e a curto ou médio prazo baseada em propostas individuais, por mais louváveis que sejam, sem uma ampla discussão nacional sobre as licenciaturas. Óbvio que isto não deve ser entendido como um desestímulo àqueles que têm trabalhado seriamente em prol do desenvolvimento do ensino de Física e da qualidade do ensino básico desta disciplina. Na pior das hipóteses, daqui a décadas ou séculos se terá convergido para uma forma particular de se ensinar a Física do século XX nas escolas, a exemplo do que aconteceu com a Física newtoniana.

* Francisco Caruso é Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Pesquisador Titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Bate-papo: Max Jáuregui entrevista o pesquisador José Helayel

"Mecanismo de quebra espontânea de simetrias na física de partículas".
Você sabe o que é? Esse foi o tema da entrevista do pós-graduando Max Jáuregui Rodríguez, estudante de Mestrado em Física Teórica do CBPF, com o professor José Helayel, pesquisador do Grupo de Teoria de Campos e Partículas Elementares do CBPF. O assunto será abordado pelo professor durante o curso "Física de partículas: além do modelo padrão", voltado para estudantes de graduação, que será ministrado durante a VIII Escola do CBPF.

Assista agora ao bate-papo e não deixe de conferir a ementa do curso no site da Escola!  

Em tempo: O prazo para efetuar as inscrições na VIII Escola do CBPF  encerra quarta-feira, dia 30 de junho! Não deixe para a última hora: inscreva-se!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Verdade, a Física é pop...

E não é de hoje! No final de 2008, a jornalista e blogueira Rosana Hermann (ela também física por formação) já detectava a popularidade da área e anunciava em seu blog “Querido Leitor”: “acho que a física vai virar moda”. De José Padilha, diretor de Tropa de Elite, a Steven Chu, então recém indicado ao cargo de secretário de Energia do governo Obama, não faltaram nomes de físicos que estivessem entre os famosos da época. Recentemente, o sucesso da série de tv americana The Big Bang Theory, já na terceira temporada e vencedora do People's Choice Awards de 2009 como melhor série de comédia, tem comprovado que a Física pode ser o máximo e, inclusive, render boas risadas.


Nem tão famoso na época, porém já bem conhecido entre os estudantes e aficionados pela matéria, o físico Dulcidio Braz Júnior, professor em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, e apaixonado pela sala de aula, foi um dos lembrados pela jornalista por causa do blog Física na Veia! Criado em 2005, em comemoração ao Ano Mundial da Física, o blog apresenta a resolução de questões de física e reproduz notícias e curiosidades relacionadas à área.

 - O blog é a minha sala de aula na internet. Por meio dele, utilizo uma linguagem leve e de fácil entendimento sobre um assunto que é considerado árido para muita gente -, explica.  A habilidade do professor em utilizar a internet para atrair estudantes ao universo da Física pode ser reconhecida pela marca de 1 milhão de visitas que o blog atingiu em novembro de 2009. O slogan "A Física é Pop!", adotado desde então, surgiu inspirado no post de Rosana Hermann, que citamos no primeiro parágrafo.

A popularidade da física - e do blog do professor Dulcidio - não parou por aí. No início deste ano, o Física na Veia! foi escolhido pelo The BOBs (The Best of Blogs) como o melhor web blog em língua portuguesa. Organizado pelo grupo de comunicação alemão Deutsche Welle, um dos dez maiores do mundo, o prêmio reconhece blogs do mundo inteiro em diferentes categorias e se tornou referência como uma das premiações mais importantes da blogosfera mundial. A entrega do prêmio acontece hoje, dia 21 de junho, em Bonn, na Alemanha.

Neste ano, onze blogs brasileiros (entre mais de 8.300 sugeridos por internautas) foram candidatos ao prêmio. “O que mais me deixa feliz é que não sou celebridade, sou professor!”, comemora Dulcidio, que concorreu ao lado jornalistas e profissionais das áreas de comunicação, artes e tecnologia.

O professor Dulcidio estará na VIII Escola do CBPF compondo a mesa-redonda A prática da divulgação científica e as novas mídias sociais, que acontece dia 20 de julho, às 18h30, ao lado dos blogueiros Leandro Tessler (Cultura Científica) e Fernanda Poletto (Bala Mágica). Mediada pelo físico e divulgador Marcelo Knobel, da Unicamp, o objetivo dessa mesa-redonda é discutir o papel ativo dos blogs de ciência no trabalho de divulgação e educação científica, além de avaliar o poder das novas mídias de aumentar a participação da sociedade na discussão de temas da Ciência.
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